sábado, 4 de julho de 2015

Relicário



Não é como se você tivesse pedido autorização pra entrar. Você só fez. Escancarou a porta, jogou os sapatos no canto da cozinha, me pegou no colo e me levou pro quarto e me fez ali, me moldou e me desfez, arrancou meus padrões, meus medos e requisitos de quem quer que queira entrar por aquela porta.

Você invadiu minha cozinha com toda a sua altura, e ombros largos desajeitados. Tomou todo o leite da geladeira e acabou com meu estoque de cookies. Fingiu que não prestava atenção em mim quando eu surtava, me deu motivos pra gritar mais ainda, me tirou do sério e me tomou nos braços novamente, volta pro quarto.


Não é como se fosse possível resolver tudo com sexo, mas você resolvia, por que você me faz esquecer tudo.


Eu tinha tanto dentro de mim, tantas dúvidas, tantas revelações e vontades de me surgir e emergir, e nas noites calmas, de conversas que realmente importam você só fez meter esse seu dedinho e mexeu tudo dentro do mim, que nem uma criança faz com seu copo de suco. Não sabia que podia admitir isso, mas você me trouxe à tona, me mostrou o que tem de mais no mundo. Coisas simples, cheiros e sabores, texturas e vida.


Todo esse ar que você me faz respirar.


Você me chama de criança, mas é você que tem as ideias mais loucas no meio da noite, é você que quer passear de canoa num lago no meio de uma noite chuvosa. E eu tenho que estar lá. E eu sou tão grata por estar lá. Por poder presenciar tua cara lavada, cabelo colado na testa e riso besta nos lábios. Esses momentos me trazem felicidade.



Sou grata por tudo. Por ter você até nos momentos de explosão nuclear, eu seguro tua mão até quando você não quer. Se lembra daquele dia, você estava com tanta raiva que quebrou um copo na sua mão por apertar com muita força? Eu esqueci o motivo da briga no instante que vi o sangue escorrendo. Você não pode sangrar, não pode se corromper, por que eu sempre vou querer te curar, te juntar e te guardar em mim, eu te segurei forte no meio dos meus peitos naquela noite e disse pra nunca mais fazer uma besteira dessas, e você só lambeu a lateral do meu seio, e eu ri.

Se isso é amor eu não sei, mas eu sei que isso é companheirismo, e eu vim, através desse texto te dizer que, meu bem, eu sou a pessoa mais feliz do mundo por compartilhar cada momento contigo.


Talvez nem sejam todos, mas os mais importantes estão marcados na minha mente como o fogo marca a pele crua.

Nenhum comentário:

Postar um comentário