sábado, 3 de maio de 2014
Pânico
As luzes noturnas piscavam na minha vista, tudo girava em um frenesi de adrenalina e eu já havia me arrependido de ter aceitado qualquer coisa que aquele fodido havia me dado, mas agora não dava pra parar, a sensação apesar de desesperadora era louca, insana, surreal, o que mais eu podia usar para descrever? Minha mente se definia em uma nuvem espessa e nublada, nenhum pensamento se fixava, tudo o que eu queria era tocar aquela luz que o poste soltava, ela parecia ser tão divina, tão sagrada, eu sentia que ela entrava pelos meus poros, argh, não gostava de me sentir tão idiota e sensitiva.
Eu sentia a energia do vital do universo estava entrando na minha pele e me deixando na gravidade 0, me sentia em órbita e aquilo era simplesmente detestável para alguém que jamais havia tirado o pé do chão e tinha medo de altura, quando me lembrei desse fato ri feito louca, e então ouvi uma risada distante, vi aquela face borrada e uma voz longe falando:
-Por favor, não tenta subir no poste! - eu ri,
Me lembrei de ter raiva daquela voz e daquele rosto, mas apenas ri, por que sentiria raiva de alguém com rosto borrado? Eu não conhecia ninguém com o rosto assim então não tinha por que sentir raiva. Hnmmmmm, o rosto borrado estava se afundando no meu pescoço e aquilo era bom, o hálito quente, os lábios molhados, meus cabelos sendo puxados para trás para abrir caminho, sim, aquilo era realmente bom, será que ele havia tomado algo pra ficar assim também? Será que eu era um borrão pra ele? Devo ser.
A Luz do poste havia sumido e árvores haviam brotado do chão, sabe aquelas escuridões de florestas de terror, pois bem, parecia de terrível, mas a temperatura havia subido, e estava ficando quente, era o meu corpo que estava quente eu percebi, a energia vital do universo se transformou em calor nas minhas minúsculas células e tudo o que eu queria era que algo me refrescasse, o hálito quente do Sr. Rosto-Borrado no meu cangote não ajudava muito, novamente me lembrei que devia sentir raiva de alguém, uma sensação de pânico cresceu, mas meu corpo amoleceu e se deixou levar, quanto tempo levaria pra esse cara se tocasse de que aquilo ali não estava mais tão legal, na verdade estava horrível, levantei minhas mãos e o empurrei para longe, mas acho que foi só na minha mente que eu empurrei ele, afinal ele ainda estava ali, não havia se mexido nem um milímetro.
Minha mente foi ficando mais e mais nublada e aquilo havia se tornado uma sensação detestável e então me senti caindo, e enquanto caía as árvores pareciam se deleitar com o meu estado e pareciam que iam se deitar em cima de mim, com seus braços de galhos esqueléticos e rústicos e folhosos e assustadores, me arrepiei com o vento frio batendo contra o meu peito nu, onde havia ido a minha blusa? o que estava acontecendo? Deus, eu queria pedir para parar, mas nada saía de mim, só um som morto surgiu na minha garganta, acho que aquilo incentivou quem quer que fosse o responsável por aquilo por que senti um vento mais frio ainda subir pelas minhas pernas e minha calça haviam sumido, e então minhas mãos foram amarradas com o que deveria ser o meu cachecol, um pânico subiu na minha espinha, que me fez querer me encolher, me proteger. É eu percebi o que estava acontecendo, o meu maior medo estava se tornando realidade e eu havia começado a tremer furiosamente, não, aquilo não devia estar acontecendo, tentei gritar porém ainda estava morta, amolecida ali naquele chão de terroso e frio e o Sr. Rosto-Borrado soltou a mão pesada no meu rosto e falou furiosamente no meu ouvido:
- Péssima hora pra recobrar a consciência gatinha, não queria que você tivesse acordada quando fosse acontecer, mas pro seu azar eu não tenho mais a droga comigo, então fique calada e nem se atreva a gritar, senão vai ser pior, eu prometo.
Senti meus olhos borrarem com lágrimas, sinceramente eu não acreditava que aquilo fosse acontecer logo comigo, eu queria me mexer, queria gritar, queria usar meu conhecimento de defesa pessoal, mas meu corpo não obedecia a minha mente, a agonia crescente e continua que subia pelas minhas veias, queimando a de raiva e pânico, e meus olhos apenas captaram um pedaço do céu estrelado lá longe e tudo o que me restou foi pedir a qualquer pessoa celestial que estivesse olhando aquela situação perversa, rezei para desmaiar, rezei para poder lutar pela minha vida, pelo meu corpo, lutar pela minha honra, mas eu ainda estava ali, consciente, porém amolecida. Pânico, era tudo o que poderia descrever.
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