sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Ben e Camila

Estava chovendo e a frente do cinema estava cheia, Ben olhou no celular pela décima vez e nenhuma mensagem de Camila havia chegado, riu ironicamente consigo, era otimismo demais esperar que Camila realmente fosse ao cinema com ele. Camila que dias atrás sorria linda com cabelos caindo nos olhos, de repente mudou, perdeu a cor dos lábios, perdeu o brilho dos olhos, ou talvez Ben tivesse perdido a cor para Camila.  Ben que só queria saber o que se passava naquele cérebro cinzento escondido entre madeixas pretas e pensamentos obscuros, ai ai Camila, por que maltrata assim?
Camila, ele só te pediu pra ver um filme, custava ir? Tu sabia que esse era o passatempo favorito dele e que estava passando um filme que ele aguardava tanto para ver... Por que tu sumiu Camila? Ben que foi cuidar de ti quando aquela gripe forte te pegou, ele que ligou pro seu chefe e explicou, foi esse mesmo Ben que tu recusou um filme que foi te ver de madrugada por que tuas crises de pânico não cessavam, te lembra disso? Camila, ele só sabia te olhar com olhos de homem apaixonado, ele te trouxe tantas coisas da ultima viagem que esqueceu de trazer até pra mãe dele, Camila ele só queria segurar a tua mão, e te apertar e não soltar mais, mas isso não fez ele desrespeitar teu espaço, esse que tu enfiou goela abaixo nele. Ben já confessou a si mesmo que estava repensando em toda essa relação de vocês, mas ele lembra do teu sorriso feliz, e insiste em pensar que é só isso que precisa fazer, te fazer sorrir, Camila, não maltrata ele assim não.
Tu sabe de pouca coisa mulher, não sabe de metade do que ele tem passado esses anos, mas também, tu não pergunta... Não quer saber, não é verdade?
Assume logo, pode baixar os olhos, pode tremer e gaguejar, mas assume que não é isso que tu quer, não tá precisando disso ultimamente, certo?!
Tu tá cheia demais de ti. Dizem que isso é bom, mas como vai entrar alguém? Onde que vai dar pra encaixar alguém, como amar assim?


Ben, meu amigo, pega tuas coisas da casa dela, pega tudo o que resta de ti nela, e vai procurar outra casa pra morar, outro coração para ocupar, ela tá muito cheia de si, apesar de dizerem que isso é bom, não cabe ninguém aí, esse aí tá muito apertado para ti, não tem espaço pra dançar, não dá pra arredar o sofá e deitar no chão, não tem nem janela pra olhar as estrelas, não tem a tevê pra ver os seus filmes e compartilhar, não tem espaço pro seu retrato, meu amigo, sai dai, enxuga a lágrima na camisa, pega tua mala e parte, um dia as asas hão de vir a se criar nas tuas costas e te levar pra onde tu merece.